Caminho Contra o Vício

Está dada a largada para a retomada de mais um programa da Universidade de São Paulo na corrida ao combate e prevenção de drogas, álcool e tabaco. Trata-se do Núcleo de Psicologia do Esporte e Atividade Física do Cepeusp http://www.cepe.usp.br/ (Nupsea), que reiniciou no mês de agosto as inscrições para dependentes químicos ou familiares de dependentes interessados no tratamento através da prática de atividades esportivas com acompanhamento de profissionais.

Para a coordenadora do projeto no Cepeusp, Eliane Jany Barbantini, o desempenho dos pacientes ao longo dos dois anos de duração do trabalho é animador. Eliane é professora de Educação Física especializada em psicologia do esporte, e conta que o objetivo do trabalho é ajudar pacientes a largar a dependência e estimulá-los a continuar praticando atividades físicas.

As modalidades adequadas para cada caso são indicadas após a aplicação de um questionário..”A caminhada, por exemplo, é principalmente interessante para os fumantes porque é uma atividade aeróbica contínua, que favorece a oxigenação e a desintoxicação”,diz.Esse processo diminui os níveis de nicotina (substância presente no cigarro) no sangue e aumenta os de endorfinas, substância responsável pela sensação de bem-estar. “O bem estar pode desacelerar a compulsão pelo cigarro”, explica a professora.

Esse tratamento diferenciado faz parte do Programa de Prevenção ao Uso de Drogas da USP (Produsp) http://www.grea.org.br/prod.htm , que existe desde 1995 em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Álcool e Drogas (Grea), do Hospital das Clínicas. “A diferença entre os dois grupos é que o Produsp é específico para a comunidade USP e seus familiares”, explica Silvia Maria de Carvalho, psicóloga responsável pelo atendimento aos dependentes de tabaco, que passou a ser feito dois anos após o início do programa com usuários de álcool e outras drogas.

Como a procura de funcionários tabagistas foi grande, Silvia decidiu criar um grupo específico para eles. “Os problemas são outros. O efeito da nicotina não é tão visível como as alterações provocadas pela cocaína e o álcool, por exemplo. Além disso, não interfere diretamente no comportamento familiar ou no desempenho da profissão”, diz a psicóloga, que foi uma das grandes incentivadoras da parceria com o Cepê.

“Os benefícios do esporte para a saúde e o bem-estar são gerais, mas é principalmente importante para dependentes químicos, que têm um repertório de sensações de prazer pequeno”, afirma Catarina Delgado, também psicóloga do Produsp. Ela observa que o círculo de amizades dos usuários de drogas normalmente também é de pessoas dependentes. “A atividade física pode ajudar a recuperar o prazer por uma atividade não ligadas à droga”, completa.

Na hora do encaminhamento para as modalidades, diversos fatores são levados em conta. O questionário preenchido pelos pacientes fornece à coordenadora do Nupsea um quadro claro de como o paciente se auto-avaliaem termos de capacidade vital (volume máximo de ar e oxigênio inspirado),aspectos físicos, dor, estado geral, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental. “O questionário, que é refeito a cada dois meses, ajuda a fazer mudanças e impedir que a pessoa se sinta estagnada e possa melhorar vários aspectos que precisa”, explica Eliane, que mostra que pacientes variam o tipo de atividade física praticada nos semestres seguintes.

Há dois anos, a maioria das pessoas que procuravam o tratamento do Nupsea era alcoólatra, mas nos últimos semestres passou a ser de fumantes. “O tabagismo é um vício difícil de tratar”, admite Eliane. O caso da funcionária da Odontologia Lúcia Maria Costa Ramos, no entanto, já é significativo para a professora. Lúcia continua fumando, mas diminuiu o consumo de um maço para dez cigarros por dia desde que iniciou o tratamento, em agosto de 2002. Nesse processo para largar o vício, a ajuda de especialistas é fundamental. Recente estudo do Instituto do Coração do HC mostrou que mulheres fumantes apresentam quase o dobro de ansiedade e depressão quando comparadas aos homens tabagistas.

Lúcia freqüentava as reuniões do Produsp no HU e ficou sabendo da parceria com Cepê depois de uma palestra. Lá, começou com caminhada, mas no último semestre também aderiu às aulas de ioga e fitness para pessoas acima de 35 anos.

“Procurava ficar mais de duas horas no clube. Às terças e quintas-feiras, eu chegava às 17h e saía quase às 20h”, comemora ela, que só não tinha cursos às segundas-feiras e ainda continuava nas reuniões de grupo e no tratamento. Acho importante fazer os dois juntos. O produsp funcionava como uma terapia de grupo, em que aprendia muito na interação com pessoas com objetivos parecidos”, pensa Lúcia, que precisou largar as reuniões em setembro passado mas pretende retomar.

Já para Meire Pereira, funcionária do Hospital Universitário, o tratamento no Nupsea foi suficiente. Seu esforço em começar com aulas de fitness partiu do empenho em prevenir mais uma recaída com o cigarro. Meire foi fumante por 20 anos. “Quando parei de fumar me sentia muito cansada. Com as atividades, tive mais ânimo e disposição”, diz ela, que optou por continuar com acompanhamento da professora Eliane por mais um ano e meio.

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