Profissionais orientam casais que trabalham na mesma empresa. No trabalho, a relação deve ser de profissionalismo
Ana Laura Holtz
A analista de comportamento Catarina Delgado ensina: não queira ser namorado (a) dentro do trabalho!
Muitas pessoas precisam ficar longe do seu companheiro por trabalhar em local ou cidades diferentes. Imaginar-se com o marido ou namorado trabalhando no mesmo local para muitos seria o que de melhor pode acontecer. É possível conciliar trabalho X relacionamento desde que regras sejam seguidas e haja respeito entre todos.
A analista de comportamento Catarina Delgado acredita que a manutenção de um bom relacionamento para casais que trabalham juntos depende do saber estar no mesmo ambiente assumindo e aceitando a diferença de papéis. “O casal pode, por exemplo, conversar sobre o trabalho no escritório ou até mesmo durante aquele almoço rotineiro no meio do expediente, como faria com qualquer outro colega de trabalho, mas se policiar para ao final do expediente deixar o assunto para trás e dali em diante criar um novo ambiente”. Catarina fala ainda que no trabalho, o casal deve agir como se estivesse diante de outro colega.
Ciúmes no trabalho
O ciúme em sua dose certa não precisa ser um problema. A analista sugere aos casais que, ao invés de tentar controlar o que se passa com o outro, que procurem policiar seus próprios comportamentos. “Todos nós sabemos que uma frase ou até um olhar fora de um contexto pode ser interpretado de forma errada. Pedir ao par que deixe de falar ou ignore as solicitações de determinado colega de trabalho pode gerar um problema para o crescimento profissional. Afinal, bom relacionamento com colegas e com a equipe é o foco da maioria das empresas”.
CLT
A advogada trabalhista Alessandra Iara da Cunha explica que a CLT não trata da questão do relacionamento afetivo entre empregados da mesma empresa e não há qualquer norma jurídica que o proíba. “Considerando o poder diretivo do empregador, cada companhia pode implementar suas próprias regras de conduta e, neste caso, a empresa pode restringir ou proibir o relacionamento entre os seus empregados. Tal restrição ou proibição deve ser de conhecimento inequívoco dos funcionários”.
Alessandra fala que quando as normas internas ou código de conduta da empresa proíbem o relacionamento entre funcionários, devem também informar as consequências. Desse modo, quaisquer punições para este fato já serão conhecidas pelos envolvidos e podem variar de empresa para empresa. “Na hipótese do fato chegar a conhecimento dos superiores e, considerando que a questão envolve sentimentos, não é possível que a empresa determine o fim do namoro. Em razão disso, a situação geralmente é resolvida com a demissão de um dos parceiros”.
Orientações
A advogada Alessandra da Cunha diz que, embora seja difícil separar totalmente o relacionamento profissional do relacionamento pessoal, recomenda-se que o casal seja discreto, que evite levar à empresa questões pessoais de forma a não prejudicar o seu desempenho na empresa. “Apelidos carinhosos na frente dos demais colegas também devem ser evitados. No mais, sejam felizes se assim a empresa o permitir!”
Já a analista de comportamento Catarina Delgado ensina: não queira “ser namorado (a)” dentro do trabalho! “O que quero dizer é que para ser algo saudável a relação interna deve ser como de qualquer outro colega, ninguém passa 24 horas namorando e por isso essa não deve ser a expectativa. Se este ponto for respeitado à relação a dois fica protegida de qualquer interferência”.
Divina Maria, editora de uma revista, e Edison Soares, publicitário, estão juntos há 23 anos e trabalham em companhia um do outro. Eles têm dois filhos, um de 18 anos e outro de 10. “Quando conheci Edison, ele já trabalhava como locutor de rádio, mas eu jamais gostei dessa área. Eu gosto muito de gente e ter contato com as pessoas era o meu forte. Ele estava acostumado a trabalhar fechado em estúdio. Até que fui convidada por ele a fazer um trabalho no rádio para dar dicas para as mulheres”, conta Divina.
O trabalho do casal junto começou aí. “Hoje somos editores de uma revista e estamos há seis anos no mercado. Aliás um trabalho que surgiu através de uma sugestão do meu esposo. Sempre sonhei trabalhar em família”. Divina conta que às vezes acorda de madrugada com ideias para o trabalho e não espera o dia clarear. “Acordo ele na hora para saber o pensa a respeito”.
Quando o trabalho atrapalha
Helena, como assim prefere ser chamada, era noiva de Eduardo há três anos, além dos cinco de namoro, até o trabalho acabar com tudo. “Trabalhávamos na mesma área, mas em empresas diferentes até surgir uma vaga na empresa dele. Mudei na hora. Como estávamos com casamento marcado, acreditava que trabalhar juntos significaria mais tempo um com o outro”.
Ela conta que ficou apenas quatro meses na mesma empresa até perceber o assédio de outras mulheres para cima dele. “Eu não agüentava ver outras mulheres paparicando meu noivo. Um dia não agüentei e discuti com uma delas. Perdi a razão e a xinguei. Perdi meu emprego e o noivo também”.
Ela conta que o relacionamento acabou semanas depois dela perder o emprego. “O fim foi por ciúmes, começamos a discutir muito e perdi a confiança nele”. Atualmente Helena namora outra pessoa e arrumou outro emprego. “Ele trabalha em uma empresa e eu em outra. É na mesma rua e conseguimos sair juntos no intervalo. Foi o melhor que aconteceu”, conclui Helena.
* Helena e Eduardo são nomes fictícios a pedido da entrevistada. Ela pediu para não ter o nome verdadeiro revelado.